Foto de Marcos Costa no Bairro Cristal Park em Santana de Parnaíba 10-06-2021
Um problema muito mais “SÓCIO” que “AMBIENTAL” cujo reflexo é sentido principalmente na periferia.
Já que estamos na primeira semana do mês do meio ambiente vamos falar do principal vetor de vida que pulsa até hoje no coração da nossa amada cidade de 440 anos. Nosso cartão de visita para quem chega ao centro da cidade, assim como um grande guia para o caminho dos bandeirantes, o Rio Tietê é o maior rio paulista, corta o estado de São Paulo de leste a oeste e possui 1.100 km de sua nascente até a foz no rio Paraná. Este rio foi de vital importância para o surgimento de diversas cidades, mas foi Santana de Parnaíba o local escolhido para a implantação da primeira usina hidroelétrica destinada a suprir a demanda energética da cidade de São Paulo: a barragem Edgard Souza. Entretanto, a demanda da capital hoje é outra, e essa é só mais uma das usinas desativadas na capital. Reflexo do expansão populacional, o número de residências sem qualquer tipo captação e destinação correta de resíduos sólidos e líquidos em São Paulo tem aumentado cada vez mais nas ocupações e favelas distribuídas pelas periferias metropolitana, o que contribui exponencialmente para o aumento da carga poluente que chega ao rio, e consequentemente, chega até Santana de Parnaíba. Logo podemos observar que a problemática relacionada a este gigante corpo hídrico que divide uma das maiores megalópoles do mundo é um problema muito mais “SÓCIO” que “AMBIENTAL” cujo reflexo é sentido principalmente na periferia.
Foto de Marcos Costa no Bairro Cristal Park em Santana de Parnaíba 10-06-2021
Racismo ambiental é um termo cunhado em 1981 pelo líder afro-americano de direitos civis Dr. Benjamin Franklin Chavis Jr. O conceito surgiu nos Estados Unidos em um contexto de manifestações do movimento negro contra injustiças ambientais, e é utilizado para descrever a injustiça ambiental em contexto racializado, fazendo referência às formas desiguais pelas quais etnias vulnerabilizadas são expostas às externalidades negativas e a fenômenos ambientais nocivos como consequência de sua exclusão dos lugares de tomada de decisão. A tomada de territórios para a realização de empreendimentos que geram degradação ambiental, assim como a contaminação de recursos hídricos dos quais as comunidades no entorno dependem para sobreviver, por exemplo, são algumas consequências desse tipo de injustiça. As principais vítimas do racismo ambiental são as populações pobres e negras, além de indígenas, quilombolas, ribeirinhas e outros grupos étnicos e racialmente excluídos dos processos de participação política, e em desvantagem econômica. Ao observarmos a distribuição econômica de Santana de Parnaíba fica claro o porquê estamos no topo do ranking de diferença de renda nacional, e porque somos a área vip do abismo social brasileiro. Percebe-se que os locais de maior vulnerabilidade sanitária estão (assim como em todo o Brasil) distribuídos nas regiões periféricas. O exemplo deste tipo de racismo é facilmente observado entre os dois extremos geográficos da nossa cidade, ambos próximos ao leito do Tietê mas bem contrastantes em suas realidades:
Foto de Marcos Costa no Bairro Cristal Park em Santana de Parnaíba 10-06-2021
– Bairro Refúgio dos Bandeirantes, localizado ao lado da reserva natural do Voturuna (que encontra -se em um preocupante estado de degradação cuja qual falaremos em breve) e próximo a divisa com Pirapora do Bom Jesus. Além de um trecho do Rio Tietê que passa por perto desse bairro, temos também o Aterro Sanitário TECIPAR que recebe resíduos de todas as classe oriundos de Santana de Parnaíba e cidades ao redor e ainda não conta com plano de manejo para o encerramento de suas atividades.
– Alphaville, região que é composta quase que totalmente por condomínios e empresas de alto padrão que estão tão próximas ao leito do Rio Tietê que pode-se perceber o mesmo odor do centro da cidade. Porém em sua proximidade está localizada a REBIO (Reserva Biológica do Tamboré) que conta com proteção integral proibindo visitação pública e ficou durante anos sob co-gestão de uma incorporadora canadense. A mesma região é um dos principais focos de obras de grande porte para mobilidade urbana e é o cartão postal atrativo para um $eleto grupo social que enxerga e usufrui da qualidade ambiental ali presente.
Como já foi citado no post “Hoje é o dia do meio ambiente, e me pergunto se é para comemorar? por Nuria Vilodres”, o marketing verde é o principal artifício usado para mascarar as reais intenções, ações e atores causadores de degradação ambiental. Esperamos que a reflexão causada pela data que marca a Semana do Meio Ambiente seja para além das fotos e vídeos bem produzidos que exaltam a beleza natural, mas exclui o ser humano como principal agente transformador. Esperamos que ações concretas sejam de fato direcionadas a localidades que mais necessitam, para que de alguma forma a reparação histórica desse processo colonialista que se estende a mais de 500 anos possa se concretizar através de políticas públicas construtivas, participativas e igualitárias em todo seu território.